
Há pouco tentava escrever mas as palavras que iam ser escritas, fracas, deixavam-se atropelar por lembranças passadas e tão mais fortes. Pena que nem todas boas.
Por mais que tente, não me consigo esquecer do que aconteceu, do que ouvi, do que não ouvi, do que desesperei por ouvir, principalmente não me consigo esquecer de como doeu.
Antes de te ter, eu achava que estava completa, eu achava, ingénua, que tinha uma vida. Pouco excitante, mas ainda assim, uma vida. Contudo, desde aquele fim de tarde no fim de Outubro, que eu tenho vindo a perceber que não era tão completa assim, faltava-me um motivo para me levantar da cama e enfrentar um novo dia, tu tornaste-te nesse motivo. Entraste na minha vida em excesso de velocidade, estampaste-te direitinho em mim e agora não há volta a dar.
Dás razão aos meus dias, se não for para te ver, nem consigo encontrar um propósito para sair da cama.
Sempre foi (ainda é.) tão complicado entendermo-nos, somos tão diferentes, arrisco
-me a dizer, completamente opostos, o que me dá ainda mais a certeza de que és a minha metade; tens tudo aquilo que me falta e eu sem ti... Era apenas um quarto de pessoa, porque metade da minha metade ficaria contigo. Tu marcaste-me e cada dia que passa, cravas mais fundo essa marca.
Experimentei a sensação de ficar sem ti e agora não consigo tirá-la da minha cabeça, parece que me assombra. Saber das tuas dúvidas, imaginar ver-te todos os dias e não te poder tocar, beijar, sentir, saber que ias deixar de gostar de mim, passar a ser-te indiferente... A tua resposta que tardava, a tua voz serena, a tua atitude (para mim.) impassível, tudo se traduzia em sinais de que o fim chegara, tu já não gostavas de mim e só não acabavas de uma vez... por pena.
E por outro lado tinha esperança, queria mais tê-la do que aquela que tinha na realidade, mas tinha alguma. A dúvida consumia-me corrosivamente, uma qualquer parte de mim foi destruída naqueles dois dias, a qualquer momento podia desfazer-me e lágrimas e não tinha qualquer controlo sobre isso. Não gosto de perder o controlo. Valeu-me a M.
Não é fácil esquecer as tuas palavras, a expressão na tua cara, o teu tom de voz, as tuas dúvidas, (garantes-me que já não as tens?), então sim, perdoa-me, mas ainda me sinto insegura, ainda me lembro da sensação que a ideia de te perder me provocou e, portanto, ainda tenho medo. Muito. E então sim, preciso de mimos e de sentir que sim, que estamos nisto os dois, que queremos e lutamos pelo mesmo.
Não sou tão forte como pensava, não me devia ter deixado chegar aquele estado pré-abísmico, só posso pedir desculpa a mim própria por isso mesmo.
Estou tipo em recuperação, aliás, estive de ressaca e agora voltei a usar, só que a moca é mais leve agora, não bate tanto. Acho que ainda estou muito presa no real, também... bati-lhe de chapa, deve ser normal.
A verdade é que tenho poucas certezas agora, deixei de as ter quando soube que não as tinhas, agora poucas mais tenho que as daquilo que quero (querer não é ter a certeza de que vou ter.), daquilo que sinto por ti e do que para mim significas, e que daqui a uns anos (não sei se muitos, se poucos) vou morrer, não sei é quando, se a teu lado, se com outro, se com outra, se sozinha... Mas sei que nesse dia vou pensar em ti. A menos que esteja com um Alzheimer fodido.
E sei (tenho a certeza) que, mesmo que não sejas sempre meu, eu vou ser sempre tua.
O que eu mais quero é ser. Só sou contigo.
Quero ter um futuro contigo, quero-nos juntos daqui a muitos e longos anos, quero-nos felizes.
Quero-nos.
E desejo profunda, desesperada e ardentemente que tu queiras o mesmo, sem dúvidas.
Quero levantar voo de novo.
És a pessoa que eu mais amo neste mundo.
Sempre Tua,
Sílvia Gonçalves.